terça-feira, 19 de agosto de 2008

PEDRA (e) SOBRE PEDRA

29/01/2004

Muita falta do que fazer... Meus dedos estão coçando ... e antes que eu aperte um gatilho errado. Prefiro escrever qualquer coisa. Nem que seja uma coisa que não tem nada a ver com você (que eu saiba). Ou tem e eu não sei?...

Crises e mais crises: Crise de identidade (eu já achei a minha, estava dentro da gaveta).

Crise da meia idade (não tenho esta crise, pois estou com a idade inteira, 50).

Crise econômica (minha crise não é econômica, é gastadora).

E agora para não ficar de fora, crise renal [antes fosse crise renaul(t) com t mudo].

Não me lembro de ter comido pedras. Talvez uma pequena no arroz, quando criança, mas eu cuspi (fora do prato que comia, não se preocupe!!).
Na verdade, eu até costumo engolir sapos, sapos com água de lagoa, sapos de vários tipos. Desaforos, alguns (quase todos. Ou melhor, todos prá ser bem verdadeiro).
Será que sapos comem pedras de rios ? Bem, na verdade não sei a causa nem a origem, mas alguém que não vai muito com a minha cara deve ter posto cálcio na minha comida. O médico me falou que o problema era esse, ou então eu entendi errado. O fato é que quando percebi, eu estava com uma dor incrível. Quer dizer, não tão incrível assim, porque com a intensidade que foi, eu acabei tendo que acreditar nela. E como, acreditei!
Eu fiz promessas e tratos prá ela ir embora. Prometi ser mais gente, mais tolerante, mais humano, enfim essas mentiras todas que a gente promete quando tem uma crise de rins (ou, dizem alguns, de hemorróidas).
Não adiantou. Eu acreditei na dor incrível, mas a dor incrível não acreditou em mim.
Fiquei eu ali... ... sozinho no mundo. Eu e a dor incrível.
Sozinho, não. Se estivesse sozinho não doeria tanto, mas éramos eu e ela. Eu tão pequeno, ela tão desenvolvida. Que disputa desigual...
OK, eu me rendo. Não iria ser a primeira vez que estaria me rendendo mesmo... Já me rendi “ante a força dos fatos” (Buarque de Holanda), perante uma armas apontadas para mim em assaltos, diante de imposto arbitrado pelo governo. Hoje, até pago pedágio sem ficar reclamando que ele é uma bi-tributação... por que então não me renderia diante de uma dor que dizem ser das piores ?
A verdade, é que a pedra está ali.
Ela tem que sair, mas não sai. Ela é tinhosa. Ela é birrenta e cheia de personalidade.
Até os médicos dizem que ela só sai quando chegar o momento certo, ou terá que ser extraída. Que momento será este?
Ela que é a invasora, e eu que tenho que sofrer ? Será que ela me invadiu por falta de lugar para ficar? Então ela é uma pedra do movimento das sem teto?
E eu ainda tenho que ter cerimônia para expulsá-la? Isto me lembra muito o MST. ... Mas meus rins não são improdutivos ! ! ... (Ou será que são?).
Então deve ser isto: Meus rins são improdutivos, e elas se acham no “direito de invasão”.
Pôxa, sujeira ! Meus rins não são terra. (Ou será que estão se tornando terra e eu nem sabia?) . Pelo que sei, o coração é que é terra onde ninguém anda... não os rins. Ainda mais os meus rins ! Mas, anda sim.
Eles estão sendo alvo da disputa de várias vertentes da sociedade:
Os sem-cultura, me rotulam de pouco bebedor de líquidos e me recomendam cerveja quente pela manhã em jejum. Argh ! Deve ser terrível.
Os com-cultura verdadeiros doutores, me aconselham explodi-la com aplicações em laboratório. Os laboratoristas, ficam me filmando para saberem antes dos médicos onde a pedra está neste exato momento.
Os especialistas econômicos querem vender a tal pedra a peso. Os caras da imprensa querem ter os direitos de transmitirem ao vivo, com meus gritos e tudo, o “momento da expelição” da dita cuja.
Alguns cientistas querem que, para o bem da ciência, eu os deixe ficar visitando passo a passo meu “interior”, para acompanharem os movimentos da tal pedra...
Chega !!!!! Deixem minha pedra em paz! Ops... Eu é que preciso ficar em paz. Tô doido que essa bendita pedra saia logo. Seja por meios naturais ou “operacionais”. A dor não é só chata, mas também aguda em toda a sua redondeza.
Chega!! Digo eu novamente. Senão vão acabar fazendo um concurso na Internet, para escolher o nome dessa pedra, que não é preciosa, não é Pedra da Gávea, não é pedra da Lua, nem mais recentemente, pedra de Marte.
Vou gostar muito quando puder botar uma pedra sobre este assunto. Oh, não !!!! Mil vezes, nãããããoo!! Eu disse isto! Não quero colocar pedra nenhuma, quero é sair fora desta pedra, ou melhor, que ela saia de dentro de mim...


Nota da Redação: Segundo fontes locais, a tal pedra acabou sendo expulsa, após negociações que se estenderam por vários dias, exatamente às 10:33h do dia 08/02/2004, hora de Houston, Texas, Midway, Ohio, Vila Prudente (etc).
Sinto muito (muuuuuuuito mesmo!).