terça-feira, 21 de julho de 2009

O Pai, O Filho e o Espírito Santo

Graças a Deus pelo meu filho.
Tenho reaprendido a existência de Deus através dele.
Explico uma dessas "aulas".
Talvez por causa das muitas decepções com os humanos, talvez pelo cansaço de tentar reiniciar sempre a minha busca pelas oportunidades que nunca chegam. Ou quem sabe ainda por ver o sofrimento relatado nos telejornais, as guerras, os acidentes, as mortes com sofrimento ou não... Ou ainda, pela soma de todas estas coisas (nunca saberei ao certo), passei a ter uma "imagem" de Deus, como de um velhinho muito sabido, descansando num trono no Céu, e se divertindo às nossas custas. Como quem se diverte assitindo a uma interessante peça de teatro... Só que aqui, os atores sofrem e morrem de verdade.
Eu nunca disse isto tão claramente a ninguém. Talvez por medo de expressar um sentimento tão pecaminoso.

... Mas aí num dia desses, nem sei "por que cargas d'água", eu disse assim ao meu filho:
- " Deus que é tão poderoso, poderia criar com o simples pensamento, uma "máquina de guerra" que acabasse de vez com o diabo. Aí a gente não precisaria ter essa luta toda na vida..."

Para meu espanto, ele (o filho) me veio com a seguinte resposta:
-" Deus não faz máquinas de destruição. Ele quer que a gente participe da criação das coisas, inclusive das soluções. Não fomos feitos robôs, mas seres com livre arbítrio, para escolhermos o lado certo e construirmos o caminho".

Uau, essa me derrubou!
... E não é que faz sentido?!

Só pode ter sido o Espírito Santo que revelou isto a ele. Só pode ter sido...

Quarenta e sete centavos

Num belo dia (nem me lembro se tão belo assim), parando o carro num sinal vermelho próximo ao Rink, observo que vem vindo o velhinho pedinte "costumeiro" daquela área.
Já viciado na "pedida", ele repete o chavão de sempre:
"- Dá uma ajudinha", enquanto chacoalha as raras moedas que arrecadou (ou pelo menos parte delas).
De saco cheio de "ter que dar ajudinha" a cada ser que me aborda pelos 25 sinais-vermelhos-de-cada-dia, me caiu um raio na cabeça e um saca-rolhas gigante parece estar se movendo na minha cabeça.
Meio que enraivecido por aquela obrigação de salvar o mundo, que os mais-pobres-que-eu pensam que tenho, só por estar a bordo de um simples Gol 95 (quase 100% doado), acabei deixando meu malvado lado tenebroso falar por mim...
"-Me dá uma ajudinha por quê? Por que eu tenho que te dar uma ajudinha? Ajudinha coisa nenhuma!!" Exclamei quase engasgando na lava vulcânica que parecia escorrer da boca.
Aí o velho pedinte me surpreendeu, apontando para as minhas moedinhas que estavam sobre o painel do carro (e que eu nem havia percebido):
"Aê. Você tem essas moedinhas aí. Me dá elas pra mim".
Senti que minha fúria aumentou, a ponto de sentir uma quentura "menopáusica" percorrer todo o meu corpo e não contendo a resposta que me veio à boca, e exclamei:
"Essas moedinhas não dão nem pra eu botar gasolina. Me dá você o seu dinheiro. Por que eu que tenho que te ajudar? Me ajuda aí você!".
O velho sem perder a pose, esticou devagar a mão na minha direção e enquanto derramava as moedinhas na minha mão desacostumada, disse:
"Tá bom. Se você precisa, leva aí..."
E foi assim que "tomei" 47 centavos do velho.

Sempre que conto esta passagem, provoco risos ou descrença. Embora esta história seja real, como todas as outras que relato, nunca havia percebido o possível desdobramento dela.
Talvez não tenha sido um "gênio do mal" o inspirador daquela minha atitude. Hoje penso, que pode ter sido uma centelha Divina que me fez ter aquela atitude.
Se eu fosse um velho pedinte, desrespeitado e massacrado pela vida e suas agruras... Sempre colocado de lado, um verdadeiro "ninguém" para o mundo, para a família...
Será que ser igualado a outro ser humano, mais rico (sim, porque muita gente pensa que quem dirige um Gol 95 é rico, principalmente se for um mendigo), mais "limpinho" e cheio de moedinhas, que ao invés de "ter pra dar" era mais necessitado do que eu, e eu tivesse a oportunidade de abrir minha mão e despejar a féria do meu dia para ajudá-lo; sentir que havia sido útil, salvador e necessário, não me faria parar para repensar minha existência?...
Talvez a gente nunca saiba.
Talvez algum dia, eu deixe o Golzinho com o velho e passe a fazer "coleta de donativos" naquele sinal do Rink. Quem sabe aí eu consiga saber de verdade o que se passa na cabeça (e no bolso e no estômago) do velho.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Música

http://www.kboing.com.br/script/radioonline/radio/player.php?musica=86310&op=1&rd=450323

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Barata Tonta Disse ao Rei (29/07/2002)

- “Hei Majestade, chega de me cansar!”

Disse o rei à barata:
- “O que hei de fazer então, se mais nada há para fazer ?”
- “Ora, vá tratar de seus compromissos”, respondeu a “inseta”.
-
- “Pôxa barata, qualé. Vou ficar tonto com tanta coisa prá cuidar. É muito mais divertido ficar correndo atrás de você com esta vassoura. Afinal é meu direito, não é daqui do palácio que você se alimenta ?”
-
- “Qual nada ó rei cê tá por fora. Essa correria da vassoura é exercício prá eu ganhar fôlego. Essa corrida toda é fachada. Eu vivo mesmo é de negócios escusos.”
- “Minha vida verdadeira é bem diferente destas brincadeirinhas de fingir que Sua Majestade está me alcançando. Eu brigo muito, eu dou um duro danado prá sobreviver no mundo lá fora. Dizendo assim, ninguém acredita, mas eu trabalho na venda de insumos no câmbio negro. Negócios escusos, meu caro rei, negócios escusos...
Eu levo para os porões das masmorras, as lesmas que crescem nos pães bolorentos que Sua Majestade deixa levarem para os quase mortos de fome que lá sobrevivem. Estas lesmas são enxertadas ainda no momento da descida das escadas, dentro das sacolas dos serviçais. Para “não verem o que se passa”, eles recebem por empréstimo de um dia, as chaves do ante-quarto que existe entre o seu quarto de dormir e os lavabos reais. Lá existe uma portinhola, de onde podem espiar sem serem vistos, as cenas e as conversas mais íntimas que Sua Majestade tem com sua rainha. Para eles é o paraíso. Para mim, apenas mais uma etapa do meu negócio. Uma vez implantadas as lesmas nos pães já bolorentos, estas se multiplicam com a rapidez de uma ninhada de coelhos, o que torna intragável tais comidas mesmo para os mais famintos.
... Aí, é que entra minha equipe de confiança. Membros de minha equipe pegam da padaria real, pedaços roídos dos melhores quitutes e os carregam ainda em migalhas para o ôco central, que nada mais é do que um vão suficientemente grande para caberem minhas oitenta e quatro parceiras entre a parede das escadarias que levam aos porões, e o próprio forno da padaria real. Uma vez lá dentro, entram em ação nossos técnicos em remoldagem, os Louva-a-Deus, que recompõem através de sua arte escultural com suas salivas, com exatidão quase perfeita cada alimento que é levado desmontado para o ôco central, os quais são repassados aos entregadores, os camundongos que os fazem chegar ao seu destino final, nossos fregueses moribundos das masmorras reais. Uma vez de posse de algum alimento, eles podem prorrogar um pouquinho mais as suas vidas, e negociarem com os guardas (que até hoje não sabem como entram comidas “limpas” nas masmorras), algumas regalias como prostitutas de baixa categoria e bebidas. Nas Mulheres não temos participação nos lucros, mas nas fartas sobras de vinho é que estão nossa maior fonte de renda.
Um dia eu te explico ó rei, um dia eu te explico,
... Sua Majestade ... "

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