domingo, 30 de dezembro de 2012

O Sábio e o Criminoso

(Escrito em 2001)

Certa vez o chefe de polícia de uma terra distante, precisava prender um homem que havia praticado  atrocidades em sua terra e fugido para um local distante, onde se escondia em acidentes naturais e se sentia seguro rodeado por comparsas muito bem armados.


Depois de muito pesquisar, esse chefe de polícia descobriu um humilde e pacato homem, que era conhecido por demonstrar grande força interior para enfrentar desafios principalmente quando estava em jogo a felicidade dos habitantes de sua pobre comunidade, o qual conhecia toda aquela região como o quintal da sua casa.



Feito o contato, o sábio homem aceitou a incumbência de ir à caça do tal malfeitor, e pediu ao chefe de polícia que lhe cedesse os seguintes equipamentos: quatro mulas, oito agentes policiais de diversas classes sociais, duas armas com munição e dinheiro suficiente para comida e água para dois meses. Como recompensa, pediu que seus nomes ficassem em sigilo após o grande feito ter sido realizado.

Impaciente com a urgência que a situação impunha, mesmo sem entender o porquê daquelas exigências, o chefe de polícia concordou e assim despachou o grupo logo na manhã seguinte.

Os homens foram com muita alegria, sob o dócil comando do sábio homem. Sabiam que o êxito da sua missão traria alívio aos homens de bem. Sentiam-se até mesmo um tanto importantes por estarem participando de tão sublime evento.



No primeiro dia, só festa. Tudo dava certo. Todos estavam unidos e com espírito elevado.

Porém, enquanto os homens caminhavam no deserto, reuniões urgentes aconteciam na cidade deles. Alguns líderes locais quando souberam daquela comitiva se apressaram a organizar planos paralelos. Planos estes que divergiam das opiniões do sábio homem, que prosseguia sua caminhada sem de nada desconfiar.

Entre as idéias mirabolantes, estava a de um político local que persuadiu o chefe de polícia a comprar equipamentos importados de última geração, como rastreadores por satélites, lançadores de mísseis e todo um sofisticado aparato bélico; afinal, “nossos cidadãos merecem o melhor serviço”, dizia o tal líder.



O tempo foi passando, e nas estreitas fileiras da comitiva muita coisa foi mudando. Os agentes policiais de classe social mais elevada, começavam a “fazerem valer seus direitos” e se apoderaram das montarias não fazendo mais o rodízio estipulado. Quanto ao dinheiro, alguns começaram a retirar pequenos valores extras para sí, fazendo beirar o fracasso toda a expedição. Não bastassem estes problemas, o sábio homem recebeu uma mensagem para pararem a caravana e aguardarem a chegada de reforços que viriam em moderníssimos helicópteros tripulados por soldados treinados na mais avançada metrópole bélica do planeta.

A verba que lhe era enviada foi diminuída, obrigando o sábio homem a malabarismos incríveis para continuar fazendo funcionar a missão. O tempo passando, os resultados sendo esperados, a comida e os implementos rareando. ... Cada vez o sábio homem se sentia mais sufocado, pois afinal, o plano original vinha sendo sucessivamente modificado (sem sua concordância).

A esta altura os homens que o acompanhavam já eram quatro, pois outros tantos o haviam abandonado, pois só o estavam seguindo para atendimento de seus interesses pessoais e não os da população de sua terra. Conhecedor da natureza humana, o sábio já esperava que tal coisa acontecesse (por isto havia pedido somente quatro mulas, e que os nomes dos integrantes da equipe não fossem citados quando da solução do caso, e assim somente os que permanecessem firmes no propósito de salvarem seu povo continuariam na empreitada).

O tempo continuava a passar e o criminoso começou a crescer em poderio tornando ainda mais difícil a tarefa daquele que deveria prendê-lo.

Meses se foram, e o encarregado da grande tarefa via seus dias se esvairem em promessas de futuras soluções sem condições de levar adiante sua missão.





... Talvez, ainda hoje o sábio homem possa ser visto em algum lugar do deserto chorando pelas vidas de seus concidadãos que ainda estão à mercê da situação.





Eu lhe desejo boa sorte, homem.