quarta-feira, 19 de setembro de 2012

UMA SAÍDA PARA UM BECO SEM ELA

Aconteceu comigo.

Entre 2000 e 2004, fui responsável pela manutenção dos veículos da Saúde Pública da minha cidade. A frota tinha 110 veículos, desde ambulâncias de várias marcas e tamanhos, passando por Gols, Caravans e Kombis até picapes “fumacê” e motos.
A coisa era bem difícil de gerenciar (mas não impossível).
Para tal serviço não basta ser correto, o cara tem que ser bastante criativo (além de ter uma pitada de loucura) para enfrentar as situações mais estranhas, que vão desde cantadas para superfaturar (embora a verba disponível seja bem abaixo das necessidades dos veículos) até os delírios de chefes e diretores que se acham semi-deuses só por terem um carguinho de 2 a 4 salários mínimos.

É... O “poder” faz mudanças incríveis em certas pessoas...

Vamos ao episódio:
Certo dia recebi de um desses chefões de diretoria de hospital, ou seja, um menino superpoderoso, uma ligação diferente das muitas que costumava receber. O que me chamou atenção foi que ficamos dialogando por bom tempo sem que nenhum dos dois quisesse “dar o caso por encerrado”. Até o momento em que mandei-lhe um “touché” de esquerda que atravessou seus 3 testículos (superpoderosos devem ter 3 deles).

Diálogo telefônico:

PODEROSO: “- Aqui é o Doutor Fulano do Hospital XYZ. Nossa Kombi está muito ruim e precisa de conserto urgente.”

Eu: “-Certo, doutor. Precisa que a gente mande um mecânico aí, ou dá pro seu motorista trazer ela até aqui pra gente dar uma olhada?”

PODEROSO: “ – Levar ela até aí!?! Não dá não. Tem muito serviço de rua pra ela fazer.”

Eu: “ - Ok . Quando puder, o senhor manda ela que a gente dá uma priorizada no atendimento...”

PODEROSO: “ – Não vai ter como mandar ela aí não, porque temos sempre muito serviço. Não podemos ficar sem essa Kombi.”

Eu: “ – Então tá! O senhor fica com ela aí com defeito.”

PODEROSO: “ – Mas eu preciso que a Kombi seja consertada.”

Eu: “ – Ok doutor. Então quando tiver uma folguinha, manda ela que a gente faz uma revisão caprichada.”

PODEROSO: “ – Acho que você não está entendendo. Eu não posso ficar sem essa minha Kombi aqui no Hospital, pô! “

Eu, (já de saco bem cheio): “ – Só um momentinho doutor, fica aí na linha por favor.”


20 segundos depois...

Eu: “- Doutor, tá na linha? Já tenho a solução! Acabo de ligar no outro telefone para Edinho do Reboque e ele vai mandar um caminhão plataforma. Aí o senhor manda colocar a “sua” Kombi em cima do caminhão, que um mecânico nosso vai deitadinho embaixo dela consertando, enquanto seu motorista vai em cima dirigindo e fazendo a rotina diária. Não é uma boa solução? ¿?

O homem virou bicho:


PODEROSO: “- Você está brincando comigo ???????? Isso não vai ficar assim não! Vou levar esse caso ao Superintendente (olha outro “super” aí). Você vai ver com quem está brincando!”

Eu: “ – Pode levar doutor. Só que eu acho que o brincalhão aqui é o senhor!”




... E você, o que faria?
Só sei que nunca mais ele me ligou, nem a Kombi “dele” apareceu na oficina.

Me diverti muito, mas os caras que trabalhavam comigo se “borraram” de medo.

Mais detalhes? Me pergunta que respondo pelo e-mail:
cisco@blogdocisco.com.br

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