quarta-feira, 8 de julho de 2009

Barata Tonta Disse ao Rei (29/07/2002)

- “Hei Majestade, chega de me cansar!”

Disse o rei à barata:
- “O que hei de fazer então, se mais nada há para fazer ?”
- “Ora, vá tratar de seus compromissos”, respondeu a “inseta”.
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- “Pôxa barata, qualé. Vou ficar tonto com tanta coisa prá cuidar. É muito mais divertido ficar correndo atrás de você com esta vassoura. Afinal é meu direito, não é daqui do palácio que você se alimenta ?”
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- “Qual nada ó rei cê tá por fora. Essa correria da vassoura é exercício prá eu ganhar fôlego. Essa corrida toda é fachada. Eu vivo mesmo é de negócios escusos.”
- “Minha vida verdadeira é bem diferente destas brincadeirinhas de fingir que Sua Majestade está me alcançando. Eu brigo muito, eu dou um duro danado prá sobreviver no mundo lá fora. Dizendo assim, ninguém acredita, mas eu trabalho na venda de insumos no câmbio negro. Negócios escusos, meu caro rei, negócios escusos...
Eu levo para os porões das masmorras, as lesmas que crescem nos pães bolorentos que Sua Majestade deixa levarem para os quase mortos de fome que lá sobrevivem. Estas lesmas são enxertadas ainda no momento da descida das escadas, dentro das sacolas dos serviçais. Para “não verem o que se passa”, eles recebem por empréstimo de um dia, as chaves do ante-quarto que existe entre o seu quarto de dormir e os lavabos reais. Lá existe uma portinhola, de onde podem espiar sem serem vistos, as cenas e as conversas mais íntimas que Sua Majestade tem com sua rainha. Para eles é o paraíso. Para mim, apenas mais uma etapa do meu negócio. Uma vez implantadas as lesmas nos pães já bolorentos, estas se multiplicam com a rapidez de uma ninhada de coelhos, o que torna intragável tais comidas mesmo para os mais famintos.
... Aí, é que entra minha equipe de confiança. Membros de minha equipe pegam da padaria real, pedaços roídos dos melhores quitutes e os carregam ainda em migalhas para o ôco central, que nada mais é do que um vão suficientemente grande para caberem minhas oitenta e quatro parceiras entre a parede das escadarias que levam aos porões, e o próprio forno da padaria real. Uma vez lá dentro, entram em ação nossos técnicos em remoldagem, os Louva-a-Deus, que recompõem através de sua arte escultural com suas salivas, com exatidão quase perfeita cada alimento que é levado desmontado para o ôco central, os quais são repassados aos entregadores, os camundongos que os fazem chegar ao seu destino final, nossos fregueses moribundos das masmorras reais. Uma vez de posse de algum alimento, eles podem prorrogar um pouquinho mais as suas vidas, e negociarem com os guardas (que até hoje não sabem como entram comidas “limpas” nas masmorras), algumas regalias como prostitutas de baixa categoria e bebidas. Nas Mulheres não temos participação nos lucros, mas nas fartas sobras de vinho é que estão nossa maior fonte de renda.
Um dia eu te explico ó rei, um dia eu te explico,
... Sua Majestade ... "

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