sábado, 4 de janeiro de 2014

O SACO !


No início dos anos 70, fui comprar um carro zero Km.


Naqueles dias, talvez por ser quase final de ano, não tinha o modelo e a cor que eu desejava em nenhuma agência nem concessionária do Rio de Janeiro.

Depois de visitar ou ligar para todas, consegui encontrar numa autorizada no subúrbio, então lá fomos nós, eu e meu amigo Silvio ambos de calça jeans surrada, camiseta Hering não-muito-nova, eu de tênis velho e ele de sandálias Havaianas (ambos com grande cabeleira, como era costume para jovens naquela época).
Paramos o carro (antigo), entramos no salão de vendas e procuramos pelo “nosso contato” o qual havia me atendido muito cordialmente por telefone.

Após me apresentar, o sujeito nos olhou (eu e o Silvio) e...

... virou para o lado e pegou o telefone para ligar para alguém sem sequer nos mandar sentar ou dizer: “ - peraí um instantinho que já vou lhe atender” .
Após a primeira ligação, veio a segunda.
Depois veio a terceira.
E nós ali de pé feitos dois “num-sei-o-quê” durante muitos minutos.
Em seguida ele parou e olhou para nós.
Aí pensei: “- Agora é minha vez”.

E não é que o danado voltou a pegar naquele maldito aparelho e ligou para a quarta pessoa !!?


Eu que normalmente não sou dado a bate-bocas nem discussões, comecei a ficar “aquecido” por dentro, e quando meu termostato interior apitou, peguei a sacola de papel pardo das Casas da Banha, a qual estava cheia de dinheiro vivo (como peixes recém-pescados pulando na rede!), enfiei na cara dele (com telefone e tudo), ao mesmo tempo que dizia: “ - Tô com muito dinheiro aqui. Se não quiser me atender, vou comprar noutro lugar!”

O cara ficou transparente. Botou o telefone no gancho; pediu desculpas, ofereceu cadeiras e cafèzinho.


Só não fui realmente comprar em outro lugar, porque não tinha aquele carro em mais lugar nenhum.



Alí aprendi como tem pessoas que julgam por aparência, e como o poder do dinheiro transforma “um garoto simples, comum e mal vestido”, num cliente VIP.

Como é triste saber disto.


... Mas como foi divertido fazer aquilo.
Rimos deste episódio até hoje.

Sim. Até hoje!

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